TUDO É JAZZ EM OURO PRETO.



A decisão de comprar as passagens não foi planejada, aconteceu num momento de impulso diante do computador, tanto que eu não lembrei dos festejos da "Semana Farroupilha" por aqui em Porto Alegre e que aconteceria o "Tudo é Jaz" lá por em Minas. Sorte minha e dos que me acompanharam!.. Eu pensava em apenas conhecer a cidade histórica e enquanto isto, me pareceu que somente assim nasce os momentos inesquecíveis, quando não planejamos, e as coisas vão acontecendo, se montando aos acontecimentos, agregando um sabor diferente, uma expectativa que só é saciada depois do feito realizado. Participaram também deste passeio: Cristina e Beto, Tânia, Rosane e eu.


Sexta-feira 17/09/2010:
voo saiu do aeroporto Salgado Filho-PoA às 6h.30min. com uma escala em Campinas e parada final no Tancredo Neves em Confins (onde locamos um carro). Foi o pulo do gato, para nós, sedentários, outros safenados, hipertensos e preguiçosos, com GPS que nos facilitou o percurso até Ouro Preto e também agilizou os passeios pelas ladeiras íngremes e ruelas no centro histórico da cidade histórica e arrabaldes.

 O JECA TATU:
Na ida para Ouro Preto, paramos na estrada algumas vezes para lancharmos, matarmos a sede e entender o GPS que parecia ser o sexto passageiro, nos orientando com voz feminina e sexy: (Mantenha-se na esquerda da pista!..Você está acima da velocidade permitida!..). 

Um destes lugares, foi o "Jeca Tatu" em Itabirito no quilometro-45 da Rodovia dos Inconfidentes, uma espécie de lancheira/restaurante com pequeno museu de móveis, utensílios antigos e muitos discos de vinil, onde comemos uma deliciosa empada de frango. 
Informaram-nos que serviam almoço, mas como chegamos tarde, só sobrou como opção uma limitada variedade de salgados.. 
A moça simpática que atendia no balcão permitiu bater uma foto sua, que eu prometi colocar aqui no Diário de Bordo, quando voltasse pra casa. Lamentei depois, não ter experimentado o pastel de angu oferecido por ela, e que mais tarde descobri ser a especialidade da casa.


O "Jeca Tatu" lembra uma espécie de rancho de beira de estrada, muito simpático, decorado também com artefatos campeiros, como carretas, arados, rodas de madeira, cadeiras antigas e um pequena capela de pedras com uma santa que esqueci de perguntar o nome.

Jeca Tatu
Descansamos alguns minutos debaixo das árvores e seguimos viagem. Logo que se toma o acesso para Ouro Preto, já se encontra pelo caminho as famosas panelas de barro e de pedra sabão, expostas nas calçadas para apreciação e venda. Tem todo o tipo de artesanato e as panelas de variados tamanhos, achei-as com preços salgados. A Tânia que sofre de compulsão por comprar, teve de ser contida para não saltar pela janela do carro. 

Chegando ao centro de Ouro Preto, já percebemos além da movimentação de pessoas pelas ruas, o trafego intenso de veículos em volta da Praça Tiradentes, o entra e sai de pessoas em lojinhas, bares e igrejas, as ladeiras íngremes e estreitas de calçamento de pedras irregulares, dando acesso à catedrais enormes, capelas, fontes e casarões em estilo barroco. A Praça Tiradentes é sem duvidas o coração de Ouro Preto, cujo o centro ergue-se um monumento à Joaquim José da Silva Xavier, cercado de prédios veículos, uma muvuca total.



ORIGEM DO NOME OURO PRETO:
O nome Ouro Preto foi adotado em 20 de maio de 1823, quando a antiga Vila Rica, foi elevada a cidade. "Ouro Preto" vem do ouro escuro, recoberto com uma camada de óxido de ferro, encontrado na cidade.
 

TUDO É JAZZ:
Ouro Preto é cheia de acessos, curvas que se desdobram e confundem os olhos dos visitantes abrindo-se para uma pequena e surpreendente praça, com casarões germinados de janelas e portas coloridas - muitos deles utilizados como republicas estudantis.


Neste fim de semana, além do movimento habitual provocado pelos turistas, a cidade estava como esperávamos encontrar, muito mais movimentada e respirando Jaz por todos os poros, por estar sediando a nona edição do "TUDO É JAZ" evento artístico com o objetivo de promover o intercambio entre artistas internacionais e brasileiros e homenagear Louis Armstrong- ícone do jaz internacional e os 300 anos de Vila Rica - (Ouro Preto).



Outra coisa que nos chamou a atenção, foi ter notado pelas ruas, vários carros estacionados e de janelas abertas. Será que não ocorrem furtos na cidade?.. Também não presenciamos qualquer tipo de algazarra entre jovens e olha que a cidade estava cheia deles com latinhas de cerveja na mão.



O HOSTEL:
Ficamos hospedados no Hostel Brumas, na ladeira da Igreja São Francisco de Paula, pertíssimo da rodoviária. O hostel localizado no alto da ladeira é simples, de decoração colorida, com uma vista privilegiada da cidade e oferece um serviço que a maioria dos hospedes esperam, simpatia, hospitalidade e preocupação com o bem estar e satisfação dos clientes sem ostentação e luxo. Era do que precisávamos.


A tarde fomos conhecer as igrejas, museus e fontes espalhadas pela cidade e a Feira de Artesanato em pedra-sabão que vende uma infinidade de objetos decorativos e se concentra grande quantidade de turistas em busca de suvenires.


Nas proximidades da Praça Tiradentes, está a Rua das Flores e a Rua Direita. Nesta segunda, pudemos visitar a antiga residência de Tomás Antônio Gonzaga, que ocupou o cargo de Ouvidor de Vila Rica. Desembocando na Praça Reinaldo de Brito, está situada a Casa dos Contos que serviu de prisão para os inconfidentes.


A Casa dos Contos é uma das poucas construções que existe em seu interior uma senzala preservada e aberta a visitação.


IGREJA NOSSA SENHORA DO PILAR:

É a Igreja mais rica e requintada de Minas Gerais e que consumiu mais de 400 quilos de ouro e de prata em pó para ornamentar as talhas da nave e da capela-mor. Na sacristia da igreja funciona o Museu de Arte Sacra, repleto de peças do século XVIII.

IGREJA SÃO FRANCISCO DE ASSIS:

Considerada a obra-prima de Aleijadinho e um dos mais belos exemplares do barroco brasileiro, a igreja tem projeto e grande parte das esculturas assinadas pelo artista. A pintura ilusionista que cobre o teto da nave, retratando a assunção de Nossa Senhora da Porciúncula, é de autoria de Mestre Athayde. A obra foi iniciada em 1765 e concluída em 1869.

Igreja São Francisco de Paula
    

Ponte do Contos- construída em 1745.


PASSO PIZA BAR:

A noite fomos conhecer o bar restaurante "O Passo Pizza Jazz"- localizado à poucos metros da "Ponte dos Contos", na rua São José -56, do qual ouvimos inúmeros comentários positivos enquanto caminhávamos pelas ruas. O bar ocupa o segundo piso de um casarão centenário com as paredes pintadas de um marrom terracota e pinturas de efeito que lhe dão um aspecto envelhecido e nobre, junto com o assoalho de tabuas largas, muito usado no período colonial, alem disto possui uma sacada lateral, onde apresentavam-se alguns músicos de Jazz. Como tínhamos nos alimentado somente com lanches durante o dia, o Beto pediu neste bar um Bife San Telmo que consiste em: Contra file Argentino grelhado, (relativamente mal passado), com farinha do norte na manteiga, batata dourada com alho e molho chimichurri. Além da boa apresentação do prato, as batatas estavam mal cozidas, mas com certeza passaram desapercebidas quando um dos músicos do "Bendito Blues" cantou Summertime em homenagem a grande dama do Jazz Billie Holiday. Eu, Cristina e Rosane, ficamos degustando um prato de batatas fritas temperadas com alho que eram uma delícia.

    


BAR E RESTAURANTE TOFFOLO:

Localizado na rua São José- 72, ao lado do "O Passo Pizza-Jazz" e a poucos passos da Ponte dos Contos, o bar Toffolo, com aspecto de restaurantes antigo, porém simples e com pequeno recuo da calçada, que possibilita acomodar mesas e cadeiras na rua. Quando passávamos em frente, tocava musica popular brasileira da mais alta qualidade ao som de Violão, clarinete e pandeiro. 
O musico tocador de pandeiro, estava hospedado no mesmo hostel que nós, e o apelidamos de Lenine por seus traços semelhantes a o do cantor. O administrador e filho da dona do bar, um homem beirando aos 58 anos e muito falante, me confidenciou que tem preferencia pelas musicas populares brasileiras, nada de Jazz. (Temos que valorizar nossas raízes e o que é nosso, jazz é coisa de americano e eu sou antiamericano!.. - protestava). 
A comida é muito gostosa e ainda tem de aperitivo a famosa cachacinha mineira que não arde na garganta mas atrapalha as ideias. A Tânia comprovou o poder desta bebida, no ultimo dia por lá!..

Passeio de Trem até Mariana
Sábado 18/09/2010:

PASSEIO DE TREM:
No Sábado levantamos cedo para fazermos o passeio de Trem de Ouro Preto à Mariana, conforme combinamos. Eu e Rosane fomos à pé para a estação enquanto os outros se arrumavam e iriam de carro encontrar-nos, mas infelizmente chegaram depois da partida do trem



Chegamos antes das 10 h na estação e fomos os últimos a conseguir lugar, por ser um passeio muito concorrido. A viagem leva em torno de uma hora de uma estação à outra, cruzando por vales, pontes e tuneis que quase encostam nas paredes do trem, descortinando toda a bela paisagem da serra mineira. Um dos funcionários do trem, caminhava pelos vagões e nos informava sobre cada detalhe da paisagem que passavam pelas janelas.



Durante o passeio fomos presenteados, dentro do trem, com o Show do "Russo Jaz Band", um grupo de brasileiros (paulistas), formados por seis músicos que se utilizam do trompete, sax alto, trombone de vara, tuba, banjo e washboard, para tocarem músicas tradicionais americanas como dixieland, ragtime, marchas, jazz e blues, até a estação (rosada) de Mariana. Este foi um dos momentos que mais apreciei no passeio, causando a sensação de estarmos nos reportando no tempo!

O show continuou ainda por longo tempo em frente a estação de trem rosada, onde as pessoas se aproximavam e dançavam ao som da balada do jazz, que lembrava os tempos de ouro em Nova Jersey.

MARIANA:
Caminhando pelas ruas de Mariana, percebemos que é uma cidade graciosa, mas não possui tantas ladeiras quanto Ouro Preto e talvez por estar localizada num ponto mais baixo, faz muito calor e parecia abafada. Almoçamos no restaurante "Rancho Fogão à lenha" na Praça Frei Gomes 108, com comida tipicamente mineira à vontade e em seguida fomos caminhar mais um pouco pela cidade.


RANCHO FOGÃO A LENHA

Ficamos impressionados com a quantidade de igrejas que se concentram em toda aquela região. São tantas, que chega a ter uma do lado da outra, causando aquela sensação cansativa de que está se repetindo um cenário que você  viu inúmeras vezes. Mariana fica á 12 quilômetros de Ouro Preto e pode-se deslocar de uma pra outra à pé se tiver energia suficiente.

CENTRO DE MARIANA

Um fato histórico importante e que vale colocar aqui, é que no século XVII, Mariana tornou-se a primeira capital de Minas Gerais por participar de uma disputa onde a vila que arrecadasse maior quantidade de ouro, seria elevada à Cidade, sendo a capital da então Capitania de Minas Gerais. A Origem do nome Mariana: foi dada em homenagem à Rainha D. Maria Ana de Áustria, esposa de D. João V.



Ao final da tarde, antes de anoitecer, fizemos o caminho de volta, no carro que havíamos locado. Em Ouro Preto, o show de rua se deu por conta de dois ilustres desconhecidos (um no violão e outro no violoncelo) num palco montado sobre um palanque de rua, ao lado da igreja do Rosário. Com repertórios que passeava de Vila Lobos, Jacó do Bandolim, Gilberto Gil, Tom Jobim e outros nomes de peso, os dois músicos arrancaram emoção da platéia e andantes que por ali passavam curiosos e paravam para assisti-los boquiabertos. Voltamos para casa cansados e muito emocionados com o espetáculo à céu aberto do qual assistimos.

IGREJA DO ROSARIO - OURO PRETO


Domingo 20/09/2010:I

MINA DE PASSAGEM:
No nosso ultimo dia, pegamos novamente a estrada pela manhã e fomos conhecer a Mina de Passagem, antiga mina de ouro, que atualmente é a maior mina aberta à visitações turísticas do mundo, à 5 km de Mariana. Com 315 metros de extensão e 120 metros de profundidade e um lago natural de água azul transparente no seu interior pouco iluminado, a mina é um dos pontos altos do local e atrai turistas de todos os lugares para conhece-la. O guia nos informou da existência de outras galerias abaixo de onde estávamos e que durante as escavações, um lençol freático foi encontrado ocorrendo inundações nas galerias inferiores, formando-se o lago nas partes mais altas, atualmente propício a prática de mergulho turístico. Contou também que no passado foi retirado 35 toneladas de ouro para os europeus.



A exploração de ouro teve seu inicio em 1719 e finalizado em 1984. Em 1999 a mina foi reaberta para a exploração turística. Com tanta história ao longo de sua existência, a mina, não deve deixar de ser apreciada por quem visita Ouro Preto e Mariana.

LAGO SUBTERRANEOA EM M. DE PASSAGEM




O trajeto até a mina, se faz num pequeno trolley (espécie de vagão com bancos de madeira), puxado por um cabo de aço, usado pelos mineiros na época da exploração do ouro, a mais de 120 metros de profundidade, o equivalente a um prédio de 30 andares. As galerias são iluminadas e foi possível ver tudo a nossa volta, como maquinários de perfurações e de sucção da água, os salões, os veios minerais que compõe as paredes rochosas.



Ao contrario do que eu pensava a mina não é apertada, possui muito espaço onde é possível andar de pé e com um grupo relativamente grande de pessoas no seu interior. Numa das galerias existe inclusive um altar com a imagem de Santa Bárbara, a pedreira dos mineradores.



A mina conta também, a alguns metros de sua entrada, com um restaurante, o "Clube do Ouro", que serve comida mineira feito num típico fogão de pedras e barro e um pequeno museu, com exposição de objetos utilizados na extração do ouro e uma liteira do século XVIII, (espécie de transporte), pertencente ao arcebispo de Mariana. A peça está bastante preservada.


Ao final do passeio, fora da mina, o guia nos fez uma demonstração de como era feita a separação do ouro inicialmente misturado a rochas moídas é outros metais, numa bandeja de aço apropriada para este trabalho e utilizada neste processo manual.


PICO DO ITACOLOMI:
Depois de conhecer a Mina de passagem tentamos conhecer o Pico do Itacolomi, localizado no Parque Estadual do Itacolomi, nos municípios de Mariana e Ouro Preto. Com 1.772 metros de altitude, servia como ponto de referencia aos antigos viajantes da Estrada Real, com longas curvas e uma flora de encher os olhos. A palavra Itacolomi vem da língua tupi e significa "Pedra Menina" pois os índios viam o pico como um filhote da montanha.


Neste ultimo dia, não foi possível ver muita coisa, pois o dia estava nublado, dificultando a visibilidade do pico, além do que, chegamos muito tarde para solicitar uma visita guiada. Ficamos somente nas proximidades de um lago e no morro das antenas.


Voltamos para o hostel frustrados com este ultimo passeio que não deu certo, mas muito satisfeitos com os outros que deram e aprendemos muito sobre a história do Brasil- Ciclo do ouro e daquela região. No frigir dos ovos, foi um fim de semana inesquecível que com certeza nos causará saudades e grandes gargalhadas quando sentarmos para relembrarmos.


Na ultima noite em Ouro Preto, nos despedimos da cidade com um ultimo jantar no Restaurante Toffolo, onde conhecemos sua proprietária, para depois seguirmos de carro, até o aeroporto de Confins. Acidentalmente o grupo se dividiu, pois não conseguimos voo para todos no mesmo horário. Voltamos em aeronaves diferentes. 
Chegamos todos bem em Porto Alegre, cansados, com muitas histórias para contar aos amigos e também saudosos das ladeiras, igrejas, casebres centenários e a vida noturna de Ouro Preto que é muito boa e animada. 

BAR RESTAURANTE TOFFOLO

Algumas dicas importantes: 
A o passear por Ouro Preto, use roupas confortáveis. Use calçados baixos e aderentes para andar nas ladeiras ìngremes e resvalantes de Ouro Preto. 
Durante o dia faz calor, mas a noite a temperatura cai.
Para visitar os espaços turísticos, fique atento ao horário de funcionamento, muitas atrações não abrem às segundas-feiras. Em algumas, há cobrança de ingresso e não é permitido o uso de câmeras fotográficas e filmadoras.
Taxis:
O serviço de táxis por lá, parece comunitário. Varias pessoas compartilham o mesmo veiculo e é cobrado uma taxa única para cada passageiro.

Compras de artesanato:
O souvenir típico de Ouro Preto, é o artesanato em pedra-sabão, encontrado nas principais feiras da cidade: O Largo de Coimbra e da Associação dos Artesãos de Ouro Preto (Avenida Padre Rolim), que funcionam todos os dias.
Lugares para comer: 
São muitos espalhados pela cidade, mas eu recomendo: O Passo Pizza Jazz- Rua São José 56/andar-1.
e o Bar Restaurante Toffolo- Rua São José 72 que faz mais o meu estilo.

Passagem de trem Ouro Preto/Mariana: 
Ingresso: R$22,00 à partir das 10 h e somente nos fins de semanas e feriados.
Mina de passagem: 
Ingresso: R$24,00

Restaurante em Mina de Passagem:
R$ 22,00 comida mineira-bife livre
R$ 26,00 comida mineira-bife livre+ sobre mesa.
R$ 29,00 comida mineira/bife livre+ Churrasco.


O que deixamos de visitar e ficará para um nova oportunidade:
A cidade de Tiradentes, 
Os doze profetas em Congonhas, 
A mina do Chico Rei
Cemitério afro da cidade.

Até o próximo passeio gente!

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