VISITA A ILHA DO LIVRAMENTO

Foi no final do passeio pelas ruas e ruínas de Alcântara que Xibé, nosso simpatico guia, nos informou meio sem graça, que não seria possível nos levar para conhecermos os guaras (pássaros de penas vermelhas) que se alimentam na beira da praia de um tipo de caranguejo que lhe confere esta magnifica cor, a maré estava alta e desta forma eles não apareceriam, os alimentos estariam submersos, sendo assim ele não poderia cumprir conforme o prometido. Ficamos frustrados, pois não havia mais tempo nem para visitar as comunidades quilombolas nas áreas mais distantes do qual eu em particular tinha curiosidade de conhecer e dependíamos do horário apertado do catamarã que nos levaria de volta para São Luis.

Na foto: Eu, Athos e Ellen.

Até que de repente os dentes brancos no rosto de pele negra de Xibé se iluminaram, transformando sua expressão de preocupação numa possibilidade de nos recompensar. Já sei!.., disse sorridente. Vamos visitar dona Mocinha, na Ilha do Livramento!... Dona Mocinha?..,nos questionamos, eu Athos e a Ellen.

Vista da ilha a partir de Alcântara

Então ele nos contou: Dona Mocinha é uma senhora curandeira que vive na ilha junto com seu filho adotivo, apelidado de Punk. Vivem por lá a muitos anos, sem luz, sem supermercado por perto, sem os confortos da cidade, mas com uma qualidade de vida, que é invejada pelas poucas pessoas que tem o privilégio de conhece-los.

dona Mocinha

Tão logo Xibé, fez o comentário e nos iluminamos com a possibilidade de conhecer uma pessoa tão incomum e já tratamos de conseguir um barco de pescador que nos levasse até ela e num horário marcado nos pegasse de volta para não perder o catamarã para São Luis. Foi o que fizemos. Chegamos na ilha e fomos recepcionados por dois cães que pareciam ferozes e em seguida pela figura famosa e sorridente de dona Mocinha que enquanto falava, eu observava não ter qualquer sotaque arrastado do povo da região. Falava num português correto e numa postura simples, mas com a elegância de quem tem experiência e guarda consigo muitos segredos sobre a vida.

Aguardando o barco.

Dono Mocinha nos comentou sobre o interesse de alguns pesquisadores da Universidade  em seus  conhecimentos fitoterápicos de algumas ervas da região e também de seu empenho em manter viva as tradições folcloricas e religiosas do Maranhão.

Pose para fotos na despedida.

Disse ela: O nosso povo perdeu o rumo e esqueceu de  suas raízes, trouxeram uma cultura estrangeira que nada tem haver com a gente. Este raggae trouxe consigo o consumo das drogas, a marginalização e a morte. É importante que essa gente mais nova reconheça-se na sua verdadeira cultura, no Tambor de Crioula, no Coco, no Tambor de Mina.
Eu fique surpreso com a clareza de suas palavras e a franqueza de seus sentimentos. Dona Mocinha tinha firmeza ao defender suas idéias e argumentos bem definidos para se fazer compreender. Depois de alguns minutos de prosa fui tomar um banho de mar com meu filho, enquanto os outros bebiam agua de coco na sombra das árvores. Quando retornei do banho de mar, ela tinha se recolhido para dar comida ao seus cães.

barco vindo para nos buscar


Ficamos então de conversa com o Punk que é nativo de Alcântara e tem seus sonhos de casar-se, ter filhos, mas antes quer se ajeitar economicamente na vida, montar quem sabe uma pousada ou spa naquele lugar paradisíaco. O Punk tem uma particularidade, sempre que conversa diz antes ou depois de qualquer frase a palavra:"Corretamente" ou "Perfeitamente" tornando-o muito engraçado para quem o ouve.
Já quase na hora de partir, nos despedimos dele e de dona Mocinha com um forte abraço, daqueles que se dá demorado, por que se tem a sensação de que se não o fizermos, ficará faltando um gesto, uma atitude que talvez não se tenha nova oportunidade para expressar.
Até a próxima!

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