HISTÓRIAS QUE POUCA GENTE CONHECE, O MAIS ANTIGO ALABÊ

Mestre Borel.
Há alguns meses atrás, removi na ambulância dois pacientes de um Posto de Saúde do bairro Restinga, para o Hospital Parque Belém. 
Um dos pacientes, o mais idoso do qual acomodei na maca, me chamou muito a atenção pelo tipo de pessoa que era, lúcido, falante, timbre de voz alta, dicção perfeita e educadíssimo. Além disto, possuía um rosto de feição tão peculiar, como jamais tinha visto num homem daquela idade, tanto que sua imagem ficou marcada em minha lembrança durante semanas e o som de sua voz potente, se repetindo em meus ouvidos, me dizendo: Walter Calixto Ferreira, este é o meu nome! 
Existia alguma coisa de diferente e a mais naquele homem, que eu não sabia explicar o que era, mas que me causava estranha curiosidade e surpresa, quando se pronunciava! Talvez fosse esse poder magico inerente a espiritualidade em algumas pessoas, que a nossa sensibilidade tem a capacidade de captar, mas que a nossa razão tem dificuldade para entender.
Walter Calixto Ferreira, que soube mais tarde, ser conhecido como o Mestre Borel, um dos principais representantes das religiões afro-brasileiras e da cultura negra no Rio Grande do Sul. Além de carnavalesco, escritor e pesquisador, era considerado o mais antigo alabê (tamboreiro de candomblé ou batuque) e também um dos grandes “griots”, como são chamados os homens mais velhos que preservam a cultura e a história dos povos africanos.
Walter Calixto, morreu no dia 04 de Julho numa segunda-feira, aos 85 anos, no Hospital Parque Belém, onde o deixei. Foi vítima de complicações cardíacas e respiratórias. Sua história foi tema do documentário "Mestre Borel: A Ancestralidade Negra em Porto Alegre", dirigido por Anelise dos Santos Guterres, no ano passado.

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