TEMPLO POSITIVISTA DE PORTO ALEGRE.

Por muito tempo eu passava em frente deste prédio e me chamava a atenção uma frase escrita sobre o aramado de ferro do seu portão principal. A frase que me refiro é imponente, instigadora e diz o seguinte: "Os vivos são sempre e cada vez mais governados necessariamente pelos mortos." A profundidade desta ideia que sempre me causou curiosidade e perplexidade, me conduzindo para outros campos de pensamento, teve enfim uma resposta neste final de semana, para que eu finalmente compreendesse, do que se tratava.
Domingo pela manhã, depois de uma rápida visita ao Brique, fui visitar o Templo Positivista de Porto Alegre, à convite da Márcia Hofmann, acompanhada de outros colegas conhecidos do curso de guia de turismo, que finalizei alguns meses atras, onde fomos recebidos pelo Sr. Afrânio Pedro Capelli, guardião do tempo, que nos explicou os preceitos da religião criado pelo filosofo francês Auguste Comte e curiosidades sobre alguns políticos brasileiros e seguidores do positivismo como Julo de Castilhos, Euclides da Cunha, Getúlio Vargas, Marechal Cândido Rondon e Nísia Floresta Augusta, (a primeira feminista brasileira), entre outros. Seu Afrânio, muito simpático e politizado, deixou claro em cada palavra dita na palestra, seu amor e dedicação, todos esses anos ao positivismo.
O prédio logo de chegada, ostenta certa austeridade, mas antes de entrar, temos que subir os treze degraus da escala positivista que inicia no proletariado e chega-se até a humanidade. Embora o espaço interior seja bem menor do que aparenta de fora o templo é composto por um mobiliário antigo e simples, onde as paredes, o teto e o assoalho, denunciam a  necessidade urgente de um restauro. No altar principal entre as bandeiras do Brasil e do estado do Rio Grande do Sul, um quadro de uma mulher com uma criança no colo, que nos faz lembrar imediatamente de uma santa, mas que na realidade trata-se de Clotilde de Vaux, escritora francesa e de família nobre, que após ter sido abandonada pelo marido com dívidas de jogo, conheceu Comte por quem manteve uma recíproca paixão platônica, já que neste período de 1845  a lei impedia o divórcio. Clotilde de Vaux é considerada a mãe espiritual da Igreja Positivista do Brasil e da Religião da Humanidade que considera a figura da mulher muito valorosa por seu poder de procriação e formação inicial do caráter humano. É a personificação da Humanidade, ou o "Grande Ser" na qual encontram-se incorporados todos os seres convergentes do passado, do presente e do futuro responsável pelo aperfeiçoamento humano. Abaixo do quadro, sobre o púlpito, um pequeno busto de Comte.
A religião positivista caracteriza-se também pelo uso de símbolos, sinais, estandartes, vestes litúrgicas, sacramentos, comemorações cívicas e pelo uso de um calendário próprio, o Calendário Positivista, (um calendário solar composto por 13 meses de 28 dias, com um ano bissexto na necessidade de ajuste, cujo os nomes dos meses glorificam personalidades importantes da religião, literatura, filosofia, ciência e política como: Moisés, Homero, Aristóteles, Arquimedes, César, São Paulo, Carlos Magno, Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico II e Bichat, mais Heloísa representante das "Santas Mulheres" ou "A glorificação feminina".) todos em pequenos quadros fixados na parede do templo. O positivismo é um culto de amor e reconhecimento pelos parentes, pelos grandes homens, pelas instituições sociais, pela pátria e pelos antepassados. É um sistema de vida moralizador, um regime sem distinções de classe, cor e raças, de uma vida sem conflitos, tendo como principal interesse o coletivo e não individual, e que organiza a vida social pelos moldes científicos. O seu lema fundamental é: O amor por princípio, e a ordem por base, o progresso por fim e que serviu de lema na bandeira do Brasil.
Auguste Comte, idealizador do positivismo, previu que no futuro, as pessoas não acreditariam mais em religião, por que as praticas se amparavam cada vez mais em mitos e superstições, mas temendo criar um problema, uma vez que a ciência não podia suprir outras lacunas que a religião normalmente preenche, propôs então uma religião baseada na humanidade, mas com praticas semelhantes a o catolicismo como reuniões em templos. Um lugar para buscar inspiração e compartilhar conhecimento e não para pedir graça ou adorar um deus.
No sub solo, descendo uma pequena escadaria curva de madeira, tivemos acesso a biblioteca do templo, ainda em face de organização, com um acervo incrível de livros e documentos datados do seculo XIX e inicio de século XX e também algumas esculturas de celebridades positivistas da época. 
O Templo Positivista de Porto Alegre, é um dos quatro templos positivistas do mundo, sendo que os outros três estão localizados no Rio de Janeiro, em Curitiba, e na França. Localizado na Avenida João Pessoa, nas proximidades do Parque Farroupilha em Porto Alegre, tem suas portas abertas todos os Domingos para visitação guiada e palestras. Atualmente encontra-se em tramitação no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (IPHAE), o processo de tombamento da capela. No final da visita, ainda tivemos o privilégio de ouvir um pedaço da opera "O Guarani"- de Carlos Gomes, tocada pelo guia do templo, num órgão elétrico instalado num cantinho da biblioteca.

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