TRANSVERSAL DO TEMPO


Em novembro de 1977 eu tive o privilegio de ver Elis Regina subir no palco do Teatro Leopoldina, por ocasião de seu show Transversal Do Tempo e que decididamente marcou profundamente o meu gosto pessoal pelo estilo musical da cantora.
Naquela tempo, rolava por aqui um desconforto entre os porto alegrenses de que Elis era uma cantora esnobe e que teria renegado suas raízes ao ir de muda para o eixo cultural Rio/ São Paulo em busca de uma carreira sólida. "Ela ate já tá falando arrastado que nem carioca - diziam alguns porto alegrenses". Eu tinha 19 anos e juntei tostão por tostão, para comprar o ingresso e assisti-la no teatro.


Ha quem diga, que o show surgiu de uma neura de Elis, presa num engarrafamento de transito em São Paulo. Pelo menos é o que faz entender a letra da musica que levava o titulo do show:
"As coisas que eu sei de mim, são pivetes da cidade. Pedem, insistem e eu. Me sinto pouco à vontade. Fechada dentro de um táxi. Numa transversal do tempo. Acho que o amor. É a ausência de engarrafamento..."
O show era tenso e questionava não só o stress de viver nas cidades grandes, mas passeava por outras questões politicas e sociais, muita delicadas de serem ditas num pais que vivia a tensa ditadura do governo Geisel. 
Outra musica que provocou espanto no segundo ato do show foi "Gente", que ninguém esperava naquele momento do espetáculo e que o próprio autor, Caetano Veloso, não gostou da forma debochada como Elis a cantou: "Gente é pra viver, não pra morrer de fome..." O que parecia sugerir uma denúncia da situação do músico no Brasil.
Este foi o primeiro e ultimo show de Elis, que eu assisti ao vivo, os outros que surgiram, também de incontestável qualidade, assisti somente na televisão, mas guardo na lembrança Transversal Do Tempo, como uma relíquia pessoal inestimável.

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